Bons dias caros leitores!
Hoje estou demasiadamente calmo e racional pelo que neste artigo não encontrarão a minha impulsividade e a minha faceta primária relativamente a alguns assuntos expressos nos outros artigos. Assim, esta é uma boa oportunidade para apreciarem todo o esplendor da minha inteligência nos meus dias racionais (reparem no culto da personalidade). Para quem não sabe, de qualquer forma agora já vai ficar a saber, o Presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad (penso ser assim que se escreve) visitou os EUA para participar da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Grupos judaicos e cidadãos americanos em geral manifestaram-se, condenando um convite feito pela Universidade Columbia para que o líder iraniano participasse, ainda na segunda-feira, no Fórum de Líderes Mundiais, um evento realizado pela instituição de ensino.
O assunto em que se vai focar este artigo é se se deve ou não permitir que pessoas como o Presidente do Irão, que negam o Holocausto, expressam ideias homofóbicas e condenam a existênia do Estado de Israel discursem em países democráticos alargando o número de ouvintes. Claramente, não é uma questão fácil e confesso que me é difícil chegar a uma conclusão apesar de acabar por concordar que pessoas como as referidas tenham voz nos nossos países. Passo a explicar esta minha opinião:
Antes de mais, os EUA são um país democrático (pelo menos na maioria das vezes) pelo que constitucionalmente toda a gente tem direito a expressar os seus ideiais, sejam eles da corrente de pensamente ou não do país. Assim, o Presidente Iraniano tem o direito de discursar em países democráticos assim como a população tem o direito de se manifestar contra isso. Depois, quanto mais pessoas ouvirem Mahmoud Ahmadinejad e pessoas do género, mais facilmente constatarão a ridicularidade e perigosidade de tais seres humanos. Por exemplo, ninguém terá ficado indiferente quando o Presidente Iraniano disse, com toda a pompa e circustância que no Irão não existiam homossexuais (!). Bem, primeiro, uma data de pessoas descobriu de imediato a burrice e o ridículo do Presidente ao afirmar tal coisa, julgando estar com isso a superiorizar-se aos países normais que os têm, por exemplo os EUA. Depois, outra data de pessoas constatou imediatamente que Mahmoud Ahmadinejad é um mentiroso. Deste prisma, acabou por ser benéfico a intervenção de Ahmadinejad. No entanto, estive bastante relutante em tomar uma posição quanto a esta questão e se calhar amanhã já nem terei a mesma posição. Tal relutância deve-se aos argumentos que os manifestantes podem igualmente apresentar:
Quanto mais se permitir que pessoas defensoras de ideias como os do Presidente Iraniano falem em países democráticos, divulgando as suas ideias, inegavelmente, também mais seguidores ganham. Resta saber se a diferença de opositores e apoiantes ganhos com tais discursos é ou não favorável à democracia. Depois surge outra questão, a questão fundamental de tudo isto:
Será legítimo deixar falar quem, chegando ao poder, não deixará falar nem ouvir-se ninguém para lá de si próprio?
Sinceramente não sei mas, recorrendo mais uma vez aos fundamentos dos estados democráticos, então sim, é legítimo. Diria, enquanto defensor de ideias de esquerda, mais ou menos moderadas, que este é um dos males da democracia, mas como não possuo nenhum nome que permita formar um novo ideal político que soe bem como Marx--->Marxismo, prefiro contentar-me com os regimes políticos existentes e até então experimentados. Além disso, esta é uma posição muito subjectiva porque com a mesma facilidade com que arranjamos argumentos para dizer que Mahmoud Ahmadinejad desenvolve armas nucleares sob o disfarce de um programa atómico civil, alimenta a violência no Iraque enviando armas para milícias anti-EUA e consideramos que o inimigo é ele, também defensores dos seus ideais arranjam argumentos, igualmente válidos, para considerar que o inimigo é George W. Bush, os EUA e o Ocidente em geral (facilmente, podem argumentar que se os EUA têm direito a produzir armas nucleares, então também o seu país também. Se os EUA possuem armas nucleares para se defenderem e atacarem países do Médio Oriente (os inimigos), então também o seu país pode possuir essas armas para se defender e atacar o Ocidente (o inimigo para eles). E ainda, os EUA também diziam que o Iraque possuía armas de destruição em massa e foi o que se viu). Não podemos portanto argumentar fortemente com a questão da divulgação de ideais (à excepção da questão do Holocausto) pois facilmente se criava um clima ainda mais intolerante de liberdade de expressão em países do Médio Oriente contra os ideais ocidentais, inibindo a população das poucas brisas de democracia que ainda vão ouvindo. Assim, parece-me mais vantajoso que todos possam expressar os seus ideais, por muito contrários que eles sejam para nós, pois só conhecendo todas as opiniões podemos tomar uma posição verdadeiramente forte contra todas as formas de poder anti-democráticas, opressivas em geral.
Resta ainda salientar algo muito importante, factor de intolerância e abusos de ambas as partes. O governo de um dado país não reflecte necessariamente nem totalmente os ideais da população desse país, muito menos em países onde as eleições são algo dúbias. Assim, os iranianos não pensam todos como o seu Presidente, da mesma forma que nem todos os americanos pensam como Bush. Por isso, deve actuar-se localmente contra determinadas pessoas e não contra um povo inteiro, muitas vezes inocente e vítima do seu próprio governo. Isto para dizer que discordo totalmente com uma guerra contra o Irão pois tal só irá acentuar o clima de ódio e intolerância Ocidente-Oriente e aí mais facilmente se espalharão ideais odiosos, racistas, xenófobos, etc. É necessário lutar contra todos aqueles que negam o holocausto, que oprimem os seus povos, que põem em causa a democracia no mundo mas essa luta nunca deve acentuar a guerra entre os povos. Além disso, não localizemos demasiado os focos destes ideais pois infelizmente essas ideias estão espalhadas pelo mundo e todos estamos sujeitos a ter vizinhos que assim pensam. Concentrar numa só zona todos os focos desses ideais é abrir a porta à propagação de ideias anti-semitas e outras no mundo.
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