Antes de tudo, parabéns a Nélson Évora. Com o seu ouro, Portugal acaba por conseguir a melhor participação de sempre nos Jogos Olímpicos, como aliás tinha sido prometido. Mas com o maior investimento de sempre do governo e com 5 medalhas e 60 pontos prometidos, esperava melhor da comitiva portuguesa, aliás a maior de sempre. Não pedia que todos trouxessem uma medalha, pedia apenas que se tivessem esforçado o melhor possível e que então, se perdessem, soubessem reconhecer os seus erros e a superioridade do adversário. Mas, como no futebol, a culpa nunca é da equipa, é sempre do árbitro ou das condições que não eram as melhores, como se não fossem iguais para todos. Assim, a comitiva portuguesa nos Jogos Olímpicos decepciona-me. Sinceramente, estava à espera de pelo menos três medalhas, de Vanessa Fernandes, Naide Gomes e Nélson Évora. Tinha ainda a esperança de conseguirmos alguma no judo e com um bocado de sorte, que acabou por não ter, esperava o bronze de Gustavo Lima. É certo que não se podem contratualizar medalhas mas mais uma vez, Portugal comete o erro do costume, ganha por antecipação, somos os favoritos por antecipação. Como disse Miguel Gaspar ao Público, "Na versão portuguesa, ganha-se antes de participar". Mas mais do que as derrotas e do que as desculpas esfarrapadas é a falta de ambição do povo e dos atletas que me enerva. É considerar que um 48º lugar é uma boa classificação e que um 9º lugar é um óptimo resultado porque até bateu um recorde qualquer que já era bom. Como disse Vanessa Fernandes, que esperava de ouro, para uns tanto faz ficar em 50º como em 20º. Se é certo que para uns, dada as dificuldades, é excelente ficar num 4º lugar ou conseguir o apuramento para a final, para outros deve exigir-se muito mais porque tiveram, para estes jogos, os melhores meios e os maiores apoios de sempre. Concluindo, a participação portuguesa resume-se um magnífico Nélson Évora, a uma Vanessa Fernandes que cumpriu, a um azarado Gustavo Lima, a uma triste Naide Gomes, a uns esforçados Pedro Fraga e Nuno Mendes, a uma desastrosa Telma Monteiro e a um Francis Obikwelu com uma missão inglória (dos poucos a sair com diginidade destes jogos. Um atleta a quem muito devemos e que não nos tem que pedir desculpa, pelo contrário, nós é que lhe temos que pedir desculpa) As falhas? Muitas campanhas publicitárias, muitos jantares, muitas recepções, falta de concentração, falta de rigor e de profissionalismo e excesso de confiança. A fasquia estava demasiado alta? Talvez, mas tem sempre de estar alta. Só pensando em grande se conseguem bons resultados. Entretanto ficam as pérolas dos nossos atletas que mostram bem a pequenez do seu profissionalismo...
"Agora vou de férias. Trenei para os 3000 metros obstáculos. Não vou aos 5000. As africanas são muito fortes. Não vale a pena lutar contra elas."
Jessica Augusto, eliminada nos 3000 metros obstáculos (mais tarde, reconsiderou a sua participação nos 5000)
"Entrar neste estádio cheio bloqueou-me um pouco. Acabei a prova fresco, o que é estranho. (...) Mas tem de se aprender com as contrariedades. Eu gosto de aprender. Foi bom ter apanhado aqui este banhozinho, esta tareiazinha, e agora ir para casa descansar."
Arnaldo Abrantes, 52º nos 200 metros
"A única explicação é que, infelizmente, não sou muito dada a este tipo de competições. (...) Não consigo lidar muito bem com o facto de nestas provas fazermos só três lançamentos. Em Portugal, há sempre seis."
Vânia Silva, lançadora do martelo, que ficou a 9,42 metros do seu máximo e na 46º posição
"Lutei contra os árbitros"
Telma Monteiro, judoca, que perdeu dois combates e ficou no 9º lugar
"Não me adaptei àquele lado do campo, onde havia um pouco de vento."
Marco Vasconcelos, jogador de badminton, ao ser eliminado na primeira ronda, no pavilhão da Universidade de Tecnologia de Pequim
"Cheguei à conclusão que de manhã só sou bom na caminha."
Marco Fortes, lançador do peso, depois de ficar em 38º lugar (entre 45 participantes) e a 2,08 metros do seu próprio recorde
"A égua entrou em histeria com medo do ecrã."
Miguel Ralão Duarte, cavaleiro, 47º classificado no hipismo
"Não é com este vento que gostamos de velejar."
Álvaro Marinho, 8º classificado na vela classe Cl.470
"A prata é melhor do que o ouro."
Vanessa Fernandes, 2º classificado na prova de triatlo
Quanto a alguns portugueses que ficaram em último, acho mais honroso acabar a prova, mesmo em último, do que desistir quando se encontram adversidades. Estes Jogos, apesar dos continuar a achar um falhanço a nível de participação portuguesa, teve o mérito de fazer ao povo interessar-se por outros desportos para além do futebol. Frequentemente ouvi na praia conversas cruzadas de pessoas que iam para casa para ver este ou aquele português participar. Lamentavelmente, a maioria dos atletas não soube retribuir dignamente esse apoio.
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