quarta-feira, 23 de março de 2011

E agora?

Escrevo este post a sensivelmente meia hora do início da discussão e votação no Parlamento do PEC IV, o já famigerado novo plano de austeridade do governo. 

Começo por dizer que não concordo com a maneira como todo este processo foi conduzido. Desde o PEC I até ao desastroso anúncio de Teixeira dos Santos do PEC IV muito mais podia ter sido feito e de forma muito melhor. Ao se comprometer na Europa com um pacote de medidas socialmente violentas e sem negociar com a oposição, José Sócrates chantageou o Parlamento. E pior, descredibilizou o governo. A apresentação de novas medidas de austeridade de 3 em 3 meses, cada uma mais milagrosa e definitiva que a anterior, tirou credibilidade, cansou e desgastou a imagem do executivo. Não contando já com  PR que temos que desse, já nada espero -  os anúncios e as negociatas (aquela fantuchada da assinatura do Orçamento de Estado em casa de Eduardo Catroga, um homem tão preocupado e conhecedor dos problemas sociais do país!) foram excessivamente teatrealizados e mal conduzidos.


Mas hoje, o que está em causa é o País. O que vai hoje a votação, é o que é necessário ir, é o que é necessário fazer, é o sacrifício obrigatório. E não digo que com essa desculpa se deva dar carta branca ao governo para fazer o que entender. Digo que se o PEC hoje não passar e o governo cair, o país entra em bancarrota (mais ainda). Um governo de gestão não terá dinheiro para nada, os juros da dívida serão exorbitantes e o FMI entrará em força para fazer mais do mesmo mas pior. E então os cortes não serão de 5 nem 10%, serão de 15 ou 20%. Depois disso, teremos no governo uns neo-liberaizecos que andam a ler uns livros duns americanos e a escrever "pugramas" com nomes em inglês para enganar o patêgo. 

Mas isso pouco parece importar a um BE irresponsável e mesquinho, a um PCP perdido, inexistente, morto e irresponsável, a um PSD sedento de poder, de privatização, alérgico a tudo o que é público, e a um PP que espreita o poder - talvez mais uns submarinos, mais umas fotocópias...

Enquanto isso multiplicam-se protestos de "gerações à rasca", greves sem pré-avisos nem serviços mínimos de maquinistas; boicotes, e outros que tais que de quem não percebeu ainda que não há dinheiro, que este não é o momento, que o que é preciso é trabalho, trabalho trabalho, produção, qualidade, união e sacrifício. 
Depois então, protestar. Ah, e um pormenor, votar, sim votar! Pôr uma cruzinha naquele boletim, naquele belo dia de praia ou debaixo daquela chuvada imensa. Porque quem não vota come e cala. Não tem o direito de protestar. E sem partidos políticos (aqueles dois que sucessivamente insistem em lá pôr) não há democracia. Sim, estamos em democracia, numa verdadeira democracia. E essa meia dúzia de burgueses armados em coitadinhos, esses que andaram por aí a tirar pseudo-cursos, esses quem vêm exigir tudo e mais alguma coisa, esses que não estão dispostos a mexer uma palha, esses que andam por aí a falar mal do governo, do "Socras", que andam por aí a marcar protestos pelo facebook porque sim, porque me apetece, porque quero ir para a rua, porque ainda só tenho um mercedes, comidinha e roupa lavada, vão destruir irremediavelmente o que resta do Estado Social no nosso país e vão, daqui por uns anos, não muitos, arrepender-se seriamente de terem andado a brincar com o fogo. Informação informação, informação, mas ler dá trabalho!

A realidade é uma. Temos o PS e o PSD e isso não vai mudar. Estamos numa situação complicadíssima, dependentes da UE, dependentes do financiamento dos mercados gananciosos e especulativos. Mas é aí que estamos, e é com isso que temos de viver. Se o governo cair daqui a umas horas, tudo o que foi feito até agora foi em vão, o financiamento acaba e o país afunda, para gáudio de muito palhaço e ignóbil gentinha. Depois, ficará uma certeza, a necessidade de tomar medidas muito mais duras para sair da crise do que as que estávamos a tomar.

Sem comentários:

Enviar um comentário