segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Life goes on!

Na Visão 812 de 25 de Setembro de 2008 num artigo referente à crise dos mercados financeiros é feita uma série de entrevistas a empresários, economistas, gestores e investidores sobre o presente e o futuro do sistema capitalista. João César das Neves, economista e professor na Universidade Católica, questionado sobre se o modelo capitalista, como o conhecemos, está esgotado, responde assim "Claro que não. Quando nos dói a cabeça não deixamos de ser pessoas para passar a ser cães". Pronto, é a convicção dele, tudo bem, apesar da analogia não ter sido a melhor. Se para ele esta crise é só uma dor de cabeça nem quero saber o que é uma pneumonia. Além disso, nas dores de cabeça mais fortes, como é, desdramatizando ao máximo, o caso, precisamos de tomar medicamentos para, pelo menos, aliviar a dor de cabeça. Seria portanto de esperar que na pergunta seguinte, "Qual deve ser a prioridade de mudança? Mais regulação?", JCN respondesse que sim. Mas não. JCN é um capitalista convicto. "Não precisa de haver mudanças drásticas. Isto é uma crise normal, embora mais forte. Como no caso dos tufões na costa americana, a ventania aguenta-se e depois a vida continua." Epá, este gajo gosta mesmo de fazer analogias! "Num tufão a ventania aguenta-se e a vida continua"! Que dizer então do furacão Katrina que arrasou uma cidade e matou uma série de pessoas? JCN até tem uma certa razão. Estas crises são normais, em menos de um século já tivemos duas. O pior é a normalidade e até o alívio com que JCN diz tal coisa. Parece esquecer-se das pessoas que dependem do sistema financeiro, daqueles que lhe confiaram o seu dinheiro e toda uma vida, para quem esta crise foi um autêntico Katrina. Logo na página seguinte, coincidência ou não, fala-se dos 2 milhões de americanos  que perderam a casa, vítimas da crise do subprime, e que agora vivem na rua, em tendas e do milhão a que se prevê, tal aconteça este ano. Desligar a crise do mercado financeiro da componente social, dos milhões de vítimas dessa crise é desumano, egoísta, irresponsável e de uma ignorância tremenda. Mas "a vida continua"... para uns mais que para outros.

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